O maior consenso no agronegócio brasileiro é de que o País é vocacionado a alimentar boa parte da população mundial nos próximos anos e, ao mesmo tempo, o seu amplo mercado interno. Atualmente, já figura como um dos principais exportadores de commodities agrícolas, e a demanda firme da China, o principal comprador, não deve arrefecer no curto prazo. Para o Brasil aumentar sua participação de maneira competitiva, é preciso superar inúmeros obstáculos, como a falta de uma política adequada de seguro rural, alto custo de produção, e pouca vocação para a comunicação do setor. As soluções para vários desses problemas surgem a todo instante – como o avanço da pesquisa e de tecnologias voltadas ao campo, desburocratização de processos e maior conscientização ambiental.
Esses grandes temas centralizaram os debates do Summit Agronegócio Brasil 2017, realizado na segunda-feira pelo Estado, com patrocínio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) e do Banco do Brasil. Um dos palestrantes, o vice-presidente global de Assuntos Corporativos da Bunge, Stewart Lindsay, confirmou que o futuro da empresa – uma das maiores tradings exportadoras de grãos do mundo – está relacionado ao sucesso da agricultura brasileira. “O País é uma região-chave”, garantiu. Lindsay citou, ainda, o Código Florestal como um padrão importante, que distingue os agricultores brasileiros.
Inteligência global. A presidente da Gro Intelligence, Sara Menker, observou que para o Brasil se manter em destaque num cenário altamente competitivo precisa lançar mão de inteligência global de mercado, para identificar as melhores oportunidades e também reduzir a extrema dependência da China.
Um dos fatores essenciais que reforçarão e ampliarão a competitividade brasileira daqui para a frente – após o salto de produtividade nos últimos 20 anos – é o uso intensivo de tecnologias, principalmente as relacionadas à conectividade, como internet das coisas e armazenamento de dados.
Entre os debatedores do painel “Agrotech: tecnologia e resultados”, a principal questão levantada foi que há um “dilúvio” de informações, que agora precisam ser filtradas para uso prático do produtor rural. “O grande problema é captar dados importantes e produzir tecnologia com resultado”, observou o chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, Evaristo Eduardo de Miranda.
No campo da política agrícola, o desafio é garantir renda e crédito suficiente para o produtor rural, além de governo e setor privado trabalharem juntos para ampliar mercados. Nesse quesito, o ministro interino da Agricultura, Eumar Novacki, garantiu que o governo federal “tem dado todo o respaldo para as ações do setor”. Ele citou, em sua exposição, o programa Agro+, que tem como objetivo melhorar a competitividade agropecuária, por meio, por exemplo, da desburocratização.
A garantia de renda, tema caro à Faesp, também foi citada pelo presidente da entidade, Fábio Meirelles. No âmbito do que seria um plano plurianual para a agricultura, Meirelles alertou sobre a necessidade de instrumentos de mitigação de risco, como o seguro rural, “essencial para o fortalecimento de todo o agronegócio”, disse. “Deve haver maior ênfase a este assunto na política agrícola.”
Faturamento. Sob esse aspecto, o Banco do Brasil divulgou que a instituição lançará um programa pioneiro entre os bancos brasileiros: a oferta de seguro sobre o faturamento, que garante proteção à renda estimada pelo produtor durante a safra. O vice-presidente de Agronegócios do BB, Tarcísio Hübner, mencionou que o banco desenhou o seguro sobre renda “justamente para preencher uma lacuna, que dificultava a continuidade dos investimentos do produtor na atividade”, disse. “Agora, independentemente da produção e da situação de preço, ele garante uma renda pactuada com o produtor, ou seja, é um seguro que gera um prêmio sobre a rentabilidade estimada para a safra”, explicou.
‘Produtor é guardião do meio ambiente’, acredita Faesp
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Fábio Meirelles, chamou a atenção, no evento, sobre a importância do combate à corrupção e de uma agenda de reformas. “O agro brasileiro é competitivo, mas não pode avançar sem planejamento”, disse. O dirigente ressaltou que a garantia de renda, via seguro rural, é essencial para o fortalecimento do produtor. Ele também destacou o esforço do setor em adotar práticas sustentáveis. “O agricultor é o verdadeiro guardião do ambiente.” Nesse contexto, lembrou da importância do RenovaBio – uma política de estímulo aos biocombustíveis e redução das emissões de gases-estufa.
Já o diretor-presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto, ressaltou a importância do agronegócio na retomada da economia. “Responsável por um quarto do PIB, o agronegócio tem minimizado a crise.” E destacou a necessidade de se discutirem práticas que garantam a qualidade e competitividade e estímulos à inovação